segunda-feira, 15 de abril de 2013

São Luís tem três Igrejas Gay em funcionamento


A nossa resposta ao preconceito é abrir igrejas inclusivas mostrando que pessoas podem ser aceitas e felizes, Paulo Mendonça, pastor da Nova Vida.
O Imparcial
Pastor Paulo Mendonça busca explicar aos seguidores que a palavra de Deus é inclusiva e não preconceituosa.
Pastor Paulo Mendonça busca explicar aos seguidores que a palavra de Deus é inclusiva e não preconceituosa.
Os olhares desconfiados, os questionamentos, a insistência para ‘mudar’ e o preconceito. Situações que levaram um grupo de homossexuais a criar espaços próprios para exercer sua religiosidade. Com isso, São Luís ganhou três templos gays – como os próprios denominam. Nestes locais, os grupos louvam a Deus e podem ser quem são, segundo defendem, e sem o que consideram interferências ou curiosidade exacerbada, o que os incomodava. Os templos existem há mais de 10 anos, no entanto, são pouco conhecidos e divulgados. São as auto-denominadas igrejas inclusivas – frequentada pela comunidade GLBT, mas aberta a todo cidadão.
A igreja segue uma filosofia em que não tratam e nem vêem a homossexualidade como doença a ser curada. A Comunidade Cristã Nova Esperança, localizada no Monte Castelo, foi a primeira igreja gay a ser aberta na capital; o templo Chamado de Última Hora, no Cohatrac, possui mais de cinco anos de criação; e a igreja Nova Vida, na Beira Mar, próximo à Reffsa, completou cinco anos de atividades.
A reportagem de O Imparcial visitou o templo Nova Vida e conversou com o pastor Paulo Medonça. Ele conta ter frequentado uma congregação evangélica por três anos. “Eu tinha um incômodo com os gays porque eles eram livres e eu não podia ser, pois precisava ter um tipo de comportamento dentro da congregação”, relata. Paulo chegou a exercer as funções de professor e conselheiro. Segundo ele, o tratamento começou a mudar quando ele iniciou um relacionamento com outro membro da igreja, chegando ao conhecimento de todos.
“A partir daí eu senti que me viam de outra forma. Desconfortável, eu me afastei das funções que assumia na igreja e, com o passar do tempo, eles me excluíram”, afirmou. Mas, para ele, o que poderia ser motivo de tristeza ou decepção, se transformou em motivação para seguir em frente e construir “uma obra”. “Se isso não tivesse acontecido naquele momento, eu não faria algo maior que Deus tinha guardado para mim”, diz ele, se referindo ao templo que hoje coordena e às pessoas que vêm mobilizando para a evangelização.
A igreja Nova Vida nasceu da ideia de três amigos que queriam continuar louvando a Deus e praticando sua fé, mas não queriam ser alvo de preconceitos. Era uma pequena casa e os cultos, realizados com todos sentados no chão. Aos poucos, os amigos foram informados do templo e viram se tratar de um espaço apto para louvor, diz o pastor. Hoje, são cerca de 40 membros e funciona em uma sala no Edifício Sousa Center, na Beira Mar. Paulo Mendonça explica que o crescimento da Nova Vida é impulsionado, principalmente, pelo preconceito sofrido por este grupo e que expulsa os fieis gays, lésbicas, travestis e transexuais das igrejas. “A nossa resposta ao preconceito é abrir igrejas inclusivas, mostrando que todas as pessoas podem ser aceitas e felizes”, justifica.
O quadrinhista Sullivan Suad, de 29 anos, frequenta a Nova Vida desde o início e por um ano foi resistente a se unir ao grupo. “A curiosidade me trouxe e me manteve na igreja”, conta ele, que era católico pouco praticante. A maior barreira ele conseguiu romper: tem o conhecimento e apoio familiar.
A igreja, diz ele, foi o complemento que faltava para uma vida completa. “Participar do grupo e das atividades me fez ver que Deus veio para todos, que Deus ama a todos nós. Tenho consciência de quem eu sou, da minha fé e que estou no caminho que Deus preparou para mim”, disse ele. Além de frequentador, Sullivan colabora com sua arte de desenhista e auxilia na mobilização de mais membros, a fim de fortalecer a congregação.
Atividades
A Bíblia utilizada pelas igrejas inclusivas é a mesma do catolicismo e do protestantismo. Quando perguntado sobre as passagens da Bíblia que referem à homossexualidade, pastor Paulo explica que tais mensagens, por vezes, são colocadas aos fieis de maneira a prejudicar o homossexual. “O que vemos são as igrejas fazerem várias modificações na Bíblia com o intuito de acusar os homossexuais”, diz.
Ele ilustra, defendendo que “na Bíblia tem muitas mensagens que não são seguidas”. Pastor Paulo cita o Novo Testamente em uma das passagens de Coríntios 1:14, 32, onde diz que a mulher não pode se manifestar na igreja. “Mas, há muitas pastoras”. Justifica ainda com outra passagem que diz que o “homem não deve usar a navalha (fazer a barba)”.
Para desmistificar os ensinamentos que prejudicariam os gays, o pastor tem uma estratégia. “Temos um programa de estudos, quatro por mês, onde trabalhamos os textos isolados e tentamos explicar ao membro do grupo que a palavra de Deus é inclusiva e não preconceituosa”, argumenta.
Na congregação Nova Vida há, além dos cultos, os louvores, a adoração com banda de louvor, palestras, retiros espirituais, pregações e as ofertas e dízimo. “Fazemos tudo que qualquer igreja faz. O que queremos é pregar a palavra a todos. Deus disse: ‘vinde a mim todos, que eu vos aliviarei’, ou seja, todos. Ninguém é excluído ou impedido de professar sua fé”, reitera. A Nova Vida tem cultos quartas, sábados e domingos e dispõe do blog igrejanovavidaslz.blogspot.com, para quem quiser conhecer um pouco mais.
Entendimentos
Os homossexuais estão em todas as partes e são destaque na mídia, tendo nesta uma grande ferramenta para fazer valer seus direitos como qualquer ser humano, segundo observa a psicóloga Anamaria Batista Ferreira. “Não podem ser ignorados porque são parte dessa sociedade e, como reitero, com os mesmo direitos de qualquer cidadão”, diz.
Ela destaca os movimentos como as paradas gays e o surgimento de ongs específicas. Dessa forma, diz, a sociedade começa a despertar um sentimento de solidariedade com o movimento, transformando-se em simpatizante. “O que se deve pensar é que se forma uma corrente para a eliminação de todos os tipos de preconceitos, inclusive o de gênero”, pontua.
Considerando a questão propriamente religiosa, segundo a psicóloga, não há intenção de desfazer dos documentos e bases das religiões. “Mas, há que se pensar, conforme as próprias religiões pregam, que somos todos cristãos e sendo assim, temos fé e o direito de exercê-la”, conclui.
Em contrapartida a este movimento vertente do meio evangélico, há os cristãos e líderes que entendem que as igrejas inclusivas ignoram o evangelho que liberta e transforma o homem. Ou seja, para estes líderes, ocorre uma interpretação usual, onde os responsáveis pelas igrejas inclusivas tentam reinterpretar as declarações paulinas, aplicando-as aos dias atuais, onde a homossexualidade tornou-se já parte comum do cotidiano das grandes cidades.
Estudiosos, por sua vez, avaliam que este comportamento sexual vem de fatores psicossociais vividos na infância, até os cinco anos de idade, principalmente. “Estes estudos defendem que tais fatores acarretariam traumas e complexos, podendo levar o indivíduo a desenvolver o homossexualismo durante sua vida”, explica a psicóloga Anamaria Batista Ferreira.
Segundo o padre e coordenador da Pastoral da Arquidiocese de são Luís, Crizantonio da Conceição Silva, a Igreja Católica Apostólica Romana procura, acima de tudo, valorizar a pessoa humana. “Essa valorização independe da orientação sexual, partido político ou time de futebol, mas, o intuito é valorizar a pessoa”, reforça.
O padre cita o documento Homosexualitatis, escrito pelo papa João Paulo II, onde este afirmava que ‘a inclinação da pessoa ao homossexualismo, apesar de não ser em si mesma um pecado, constitui, toda via, uma tendência mais ou menos acentuada para um comportamento intrinsecamente mal, do ponto de vista moral, por este motivo, a própria inclinação deve ser considerada como objetivamente desordenada’. Diz ainda que ‘o ato sexual está a favor da vida e que a finalidade é procriação, e a relação sexual com o mesmo sexo vai contra a questão da vida’.
“O catolicismo orienta que homossexuais procurem uma vida voltada para a castidade e tentem se conter diante de seus prazeres, emoções e desejos carnais”, reitera. Lembra ainda as passagens bíblicas, livro que rege a religião católica, que condenam a prática.
O padre explica que as questões da homossexualidade vão levando o ser humano a uma prática desregrada do sexo e se apoia ainda no Catecismo da Igreja Católica, documento-base da Igreja. No número 2358, o Catecismo coloca o homossexualismo como uma provação na vida destas pessoas e que a igreja deve acolher com respeito e sem preconceito. “O Catecismo entende que os homossexuais também são convocados a levar a mensagem de Cristo como qualquer outra pessoa”, conclui.

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